Demas, da cooperação ao abandono
A história de Demas, ainda que contada em poucas linhas nas Escrituras, é profundamente pedagógica. Paulo o menciona três vezes em suas cartas, e em cada uma dessas referências enxergamos estágios diferentes de sua vida espiritual.
O resultado é um alerta imperioso: não basta começar, é preciso perseverar até o fim.
1. Demas, o cooperador fiel
(Fm. 23-24) 23 Epafras, meu companheiro de prisão por causa de Cristo Jesus, envia saudações, 24 assim como também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas meus cooperadores.
Aqui enxergamos Demas no ápice de sua caminhada cristã. Ele é chamado de "cooperador". Isso significa que estava no front da missão, ombro a ombro com gigantes da fé como Lucas e Marcos. Servindo, se doando, participando do sofrimento e da alegria da obra de Cristo.
Tantos cristãos já viveram esse ardor inicial. É o tempo do primeiro amor, quando o coração pulsa pela missão, quando não há desculpas para servir. O fato é: a caminhada cristã não se mede apenas pelo começo cheio de entusiasmo, mas pela perseverança até o fim.
2. Demas, apenas parte da equipe
(Cl. 4:14) Lucas, o médico amado, e Demas enviam saudações.
Aqui notamos uma mudança sutil, mas imperiosa. Paulo não chama mais Demas de cooperador. Ele ainda está no grupo, mas seu coração não mais. Está presente, mas não mais ativo. Sua chama está apagando. É como quem canta sem alma, ora sem fervor, comparece sem entrega.
Esse estágio é perigoso porque dá a impressão de normalidade. O nome segue no rol, a presença ainda é notada, mas o coração está longe. O fato é: antes de abandonar a obra, muitos já abandonaram a paixão por dentro. O esfriamento espiritual nunca acontece de repente; ele começa quando deixamos de cultivar a chama do primeiro amor.
3. Demas, o desertor
(2ªTm. 4:10) Pois Demas, amando este mundo, abandonou-me e foi para Tessalônica.
Este é o desfecho mais doloroso. Paulo, preso em Roma e perto da morte, escreve: Demas me abandonou. E a razão é devastadora: amou este mundo. O apego ao transitório foi mais forte que a devoção ao eterno. O presente século falou mais alto que a missão.
Penso que não há nada mais trágico do que trocar o eterno pelo imediato, Cristo pelo mundo, a missão pela vaidade. Quantos deixam o altar por olhar para os erros dos outros, deixam a fé pelo prazer, deixam o Senhor pela ilusão. Estou certo disso: o coração dividido não suporta a caminhada cristã por muito tempo.
O que fazer para não seguir os passos de Demas?
A. Cuidemos em alimentar a chama do primeiro amor
Entusiasmo não se sustenta sozinho. É preciso buscar diariamente a presença de Deus, orar, mergulhar na Palavra, servir com alegria. Só assim a chama continua acesa.
B. Vigiemos contra a apatia espiritual
Estar apenas "na equipe" e não mais como cooperador é uma das maiores tragédias silenciosas da fé. Quando percebermos que o coração já não arde, precisamos clamar por renovação.
C. Guardemos o coração do amor pelo mundo
O mal normalmente não destrói de uma vez. Ele seduz, distrai, anestesia. E quando menos esperamos, já não temos prazer em Cristo, mas sim no mundo. Com vistas a isso, é preciso vigiar, porque amar o mundo é o primeiro passo para desertar da fé.
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Em Cristo,
Rev. Celso Gibbs
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