Um Artífice Comum

Um Artífice Comum

Por Rev. Celso Gibbs
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(Êxodo 31:1-3) 1. Disse então o Senhor a Moisés: 2 “Eu escolhi Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, 3 e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhe destreza, habilidade e plena capacidade artística...

Bezalel é um daqueles personagens que transitam discretamente pela narrativa bíblica, mas cuja presença é imperiosamente importante para compreender a pedagogia divina que transforma o comum em sublime. Ele não empunhou espada, não proferiu oráculos, nem governou multidões. Era, antes, um artífice, um homem de ofício, alguém que moldava madeira, cinzelava metais e esculpia o sagrado com as mãos ungidas pela presença do Espírito.

O fato é que Deus o escolheu e o encheu do Seu Espírito para edificar o Tabernáculo, espaço onde a glória divina habitaria entre o povo. Bezalel é, pois, a metáfora viva de que a plenitude do Espírito não é monopólio do púlpito, mas expressão do cotidiano consagrado, do trabalho feito com fé e da arte exercida como adoração.

O que podemos aprender com esse gigante que foi tão pouco falado?

O comum pode se tornar extraordinário.

Bezalel emerge das fileiras da vida ordinária. Não veio do sacerdócio, nem das assembleias proféticas, mas do chão do trabalho. A meu juízo, esse é um dos paradoxos mais belos da Escritura: o Deus transcendental habita no trabalho manual do servo fiel.

Perceba: o Espírito Santo não se restringe aos discursos; Ele também inspira o fazer, o construir, o lapidar. Há uma pedagogia monumental aqui, o Espírito concede dons não apenas para o falar, mas também para o criar.

Quantos, todavia, consideram suas profissões pouco espirituais? Entretanto, quando o Espírito de Deus habita o coração, até o martelo se torna instrumento de louvor. O crente cheio de Deus transforma seu ofício em altar e seu labor em liturgia. O trabalho se converte em culto quando o coração está tomado pela presença do Eterno.

A limitação pode experimentar aperfeiçoamentos incríveis.

Bezalel era humano, sujeito às agruras, às imperfeições e às idiossincrasias (peculiaridades) da vida comum. Ainda assim, Deus o capacitou com sabedoria, inteligência e arte (Ex. 31:3). Ele não se apoiou em títulos, mas em inspiração divina.

Penso que há aqui uma lição monumental. Qual seja? A unção não dispensa o preparo; ela o aperfeiçoa. A graça não é desculpa para a negligência; é impulso para a excelência. Bezalel aprendeu, estudou, aprimorou-se, e, então, foi movido pelo Espírito.

O fato é que fé e excelência não são polos opostos, mas faces do mesmo compromisso com o Reino. O servo de Deus deve ser devoto e competente, espiritual e eficaz, piedoso e disciplinado. Quando há entrega e rigor, o ordinário se torna extraordinário nas mãos do Senhor.

A função exercida para a glória do Rei.

Bezalel edificou o Tabernáculo, mas nunca buscou glória para si. Sua virtude mais expressiva talvez tenha sido o anonimato. Em um tempo em que a visibilidade é idolatrada, o Espírito exalta a fidelidade silenciosa.

Bezalel nos ensina que a grandeza espiritual não reside na fama, mas na função. Ele serviu sem precisar ser visto, e seu silêncio ainda ecoa como testemunho de humildade e reverência.

No mais, é imperioso compreender que Deus vê o secreto e recompensa o fiel (Mt. 6:6). Que nossas obras sejam testemunhas, não vitrines. Que nossos atos revelem o caráter de Cristo, não o brilho do ego. Servir em anonimato é, paradoxalmente, o caminho mais luminoso da fé.

Bezalel foi um homem comum, tocado pela graça, movido pelo Espírito e fiel ao propósito. Nele, o sagrado se manifestou através do simples. A plenitude do Espírito Santo não é privilégio de líderes, mas vocação de servos.

Assim como Bezalel, sejamos artífices do divino, moldando beleza em meio ao caos e construindo o sagrado dentro do comum. Que cada obra de nossas mãos, seja no lar, no trabalho, na igreja ou na sociedade, reflita o brilho do caráter de Cristo.

Construamos, pois, altares invisíveis onde Deus possa habitar por meio do que fazemos.

Foto de Rev. Celso Gibbs

Para a glória de Cristo,

Rev. Celso Gibbs

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