Senhor, abre-lhes o entendimento
Lc. 24:45 (NVI): Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras.
Existiu um momento emblemático no pós-ressurreição em que Jesus, diante dos discípulos, fez algo monumental: Ele abriu o entendimento deles. O verbo usado por Lucas indica uma ação divina de iluminação, não apenas de instrução. O fato é que o intelecto humano, obnubilado pelo pecado, é incapaz de discernir as realidades espirituais sem a intervenção graciosa do Espírito Santo. Como bem asseverou Agostinho de Hipona, "ninguém entende a verdade divina sem que Deus, que é a Verdade, ilumine o coração" (Confissões, XI, p. 87).
Ação divina, o milagre do entendimento
É imperioso compreender que todo movimento evangelístico de verdade começa não na voz do pregador, mas na ação do Espírito. Lucas registra que Jesus abriu o entendimento; não foi uma mera exposição racional, mas um ato soberano de revelar o que estava oculto para eles. O coração humano, por natureza, está endurecido, desconstruído em relação à verdade e sequestrado por idiossincrasias culturais e espirituais. Assim, o Evangelho não encontra terreno fértil sem que o Senhor fertilize o solo da alma. Jonathan Edwards descreve esse processo como "a divina e sobrenatural luz que faz a mente perceber a beleza de Cristo" (A Luz Divina e Sobrenatural, p. 12).
Penso que, diante disso, o clamor da Igreja deve ser contínuo: "Senhor, abre-lhes o entendimento!" É uma oração pedagógica e evangelística, que reconhece nossa limitação e a soberania de Deus. R. C. Sproul reforça: "A regeneração precede a fé porque o homem morto em pecado não pode crer antes que Deus lhe abra os olhos espirituais" (Eleitos de Deus, p. 45).
Ação humana, o compromisso da intencionalidade
Entretanto, é igualmente imperioso destacar o outro eixo dessa dinâmica: a ação humana intencional. Se a salvação é obra divina, o anúncio é missão humana. Jesus abriu o entendimento, mas também enviou os discípulos. Há aqui um binômio de responsabilidade: Deus age, mas usa pessoas. John Stott observa que "a evangelização é a cooperação entre a soberania divina e a responsabilidade humana" (A Missão Cristã no Mundo Moderno, p. 37).
Evangelizar, portanto, é viver e falar de Cristo de modo relacional e intencional, não com retórica vazia, mas com a graça de Deus. É ir ao encontro do pecador, partilhar mesa, ouvir suas agruras, caminhar ao lado dele em dramas existenciais, até que, pela ação divina, seus olhos sejam abertos para ver o Cristo vivo.
Duas ações, um mesmo propósito
Em vista disso, o evangelismo autêntico requer duas ações imperiosas. A ação divina, que abre o entendimento, opera a fé e ilumina o coração. A ação humana, que se aproxima do perdido, vive o Evangelho e o anuncia com amor.
A ausência de qualquer uma delas torna o esforço pífio. Evangelismo sem o Espírito é ativismo; espiritualidade sem missão é egoísmo. É imperioso, pois, que clamemos: "Senhor, abre os olhos daqueles a quem falamos, e abre também os nossos lábios para falar com graça a Tua verdade." Como sintetiza John Piper, "Deus é mais glorificado em nós quando o pecador encontra satisfação em Cristo por meio da pregação fiel de um coração incendiado pelo Espírito" (Em Busca de Deus, p. 21).
Referências teológicas consultadas
- Agostinho de Hipona, Confissões, Livro XI, p. 87.
- Jonathan Edwards, A Luz Divina e Sobrenatural, p. 12.
- R. C. Sproul, Eleitos de Deus, p. 45.
- John Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, p. 37.
- John Piper, Em Busca de Deus, p. 21.
- Bíblia Sagrada, NVI, edição 2000.

Para a glória de Cristo,
Rev. Celso Gibbs
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